domingo, 12 de julho de 2015

O mundo aqui fora tá louco


O mundo lá fora tá louco. O mundo aqui dentro também. Tênue linha da insanidade no espaço limítrofe dos dois, reforçada pelo medo, pela covardia e pelos tremores corporais que fazem o sangue esquentar e o corpo desfalecer ante o menor sinal de invasão. Loucura minha que os loucos de fora não entendem, tal qual eu não entendo a lógica deles de sempre racionalizar a loucura alheia. Ainda assim, vez ou outra, me deixo sair um pouco em meio àquela humanidade completamente desestruturada emocionalmente na esperança de que ainda encontre alguém tão louco quanto eu para fortalecer o mundo de dentro e amarrar com sanidade as pontas soltas.

O mundo lá fora tá louco. Inspira. Sou parte agora do mundo que assisto enlouquecer de longe. Contraceno com todas as cabeças vazias que eu não sabia serem tão vazias como são ao se olhar mais de perto. São elas que carregam os corações mais puros, mas são também vistas como as mais covardes, é de se perceber pela intensidade com que o sangue jorra do lado esquerdo do seu corpo: passam a maior parte no tempo enchendo outras cabeças que deveriam se encher sozinhas e esquecem de preencher a si mesmas. E isso dói. Tal qual elas eu sei onde aquele vazio as vai levar. Talvez seja uma delas tão louca quanto eu e possamos fazer do coração de um a cabeça cheia do outro.

O mundo lá fora tá louco. Inspira. Respira. Das coisas belas desse mundo de loucos eu sempre invejei os jardins. Via as flores de longe e lágrimas vertiam dos olhos como esperança de fertilizar o terreno contaminado por toda aquela mágoa que existe lá dentro. Talvez um buquê de flores seja uma feliz surpresa no caso de um possível primeiro encontro com loucura igual a minha. Eu quero tudo perfeito, diferente do que a vida se faz ser no meu mundo de dentro. Eu sempre planejei demais, escolhi demais, quis dar passos mais largos que as pernas e tropecei nos meus próprios pés. E sempre que tropeçava eu voltava pro meu mundo sem querer olhar para trás. Eu tinha medo do lado de fora. Mas continuava invejando os jardins.

“O mundo lá fora tá louco. Inspira. Respira. E não pira.” Eu li na placa atrás da porta quando me retirava da floricultura. Olhei pra trás, apontei pra placa e dei um sorriso amarelo, antes de ir porta afora. Ela nem tinha a cabeça vazia, a florista. E, pela forma como amarrou o laço ao redor daquela dúzia de rosas, tinha o coração cheio de uma loucura tal qual eu bem conhecia: esperava encontrar alguém de puro coração, mesmo que com a cabeça vazia. Ela não queria racionalizar loucura de ninguém, só ter alguém para ser feliz com suas loucuras. Hoje eu voltei pro meu mundo sem tropeçar. E o buquê eu deixei do lado de fora da floricultura: “O mundo aqui fora tá louco. Inspira. Respira. E não pira” eu escrevi no bilhete.

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