sábado, 8 de agosto de 2015

Quando esgota



É a última vez que te escrevo, espero. Até me dói falar isso, mas dói de mágoa não de decepção, como eu até, sinceramente, esperava que fosse. Porque a decepção vem junto com o sofrimento, já me é calejada e é uma das coisas com que me conformei a esperar dos outros. Mágoa não. Mágoa tem mais a ver com tristeza do que com sofrimento. Mágoa é uma das coisas que eu espero, sim, dos outros, mas que não esperava de você. Vou te contar porque, ainda que não valha de nada minhas palavras. Vou contar por quê, porque prefiro sofrer e aprender do que ficar triste e me desprender. É por isso, mais ainda, que me dói falar isso. Esse tipo de tristeza que se exterioriza da mágoa é aquela mesma que toma conta da gente quando acabamos por nos despedir daquilo que não queremos, mas precisamos porque não nos faz bem.

Essa tristeza que me toma conta – e que só hoje eu fui capaz de perceber o quanto precisava por pra fora pra que saísse aqui de dentro e fosse definitivamente embora – poderia advir do fato de eu ainda não ter aceitado esse jeito bem escroto com que você não sabe demonstrar que se importa. Quisera fosse isso, por mais idiota que possa parecer. Mas é que até isso seria melhor que a dura realidade de ela ser consequência da percepção que há anos me persegue e eu nunca quis dar ouvidos: você, na verdade, não se importa. É a última vez que te escrevo, espero. E pode me doer falar isso, mas sabe aquela dor que junto a ela traz alívio? Não? É que talvez você nunca tenha sentido doer o amor como eu senti. Talvez você nunca tenha sentido a dor de um amor como eu senti.

Eu nunca implorei o seu e lhe dei o meu de graça desde a primeira vez em que me percebi te amando enquanto o que menos me sentia era amado. Eu nunca te pedi um pedido de desculpas e as poucas vezes em que te ouvi pedi-las pra mim nada mais era que a reação à impossibilidade de, naquele momento, me faltar com a verdade. E, enquanto for amor o sentimento que define aquilo que eu sinto por você, eu continuarei sendo o mesmo cara, visto aos olhos alheios como trouxa, idiota, otário e demais palavras sinônimas. A paixão foi embora, o amor permaneceu. Eu te amo como amo todos aqueles que quero do meu lado. Mas eu senti mágoa. E a tristeza, vez ou outra, dribla a cristalização do amor para fazer dele uma mera lembrança de quem, na realidade, nunca foi quem nós acreditávamos ter sido.

É a última vez que te escrevo, espero. E a dor por tentar fazer disso uma afirmação irrefutável só não é maior do que aquela de me obrigar a aceitar que, além de pouquíssimas vezes ter sido respeitado enquanto estava ao teu lado, a consideração que eu fiz questão de ter por você e por tudo o que com você eu aprendi – e essa parte eu espero, sinceramente, nunca esquecer – não significou nada. É a última vez que te escrevo, espero. Mas não se preocupe, porque mal eu não irei falar de você. Eu não fiz apenas questão de ter. Eu – ainda – tenho consideração por você, mesmo não sendo por você considerado. Talvez eu acabe dia ou outro escrevendo sobre você, sobre nós, sobre as inúmeras coisas que eu só vivi ao seu lado. Mas, assim, dirigido a você, eu devo respeito ao meu amor próprio para não fazer. É a última vez que te escrevo, eu espero. Assim como esperei nunca mais voltar pra você.

Você sabe: eu nunca voltei. E essa é a última vez que te escrevo.

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