sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

É mágica


Enquanto 2015 encerrava, eu resolvi encerrar junto com ele e deixar para 2016 só o que realmente me fizesse bem. Aos quarenta e cinco do segundo tempo, sem prorrogação, defendi a bola e quis fazer gol a gol, porque a diferença enorme de placar permitia que eu a chutasse sem culpa: era impossível que o saldo positivo se sobressaísse ao negativo, eu só não queria desistir. Além do que, meu desafio era difícil - acertar entre os metros quadrados da trave e não naquele vão sem torcida - mas nem de longe impossível - afinal força eu tinha e o tempo pra bola cruzar todo o campo era suficiente também. 

Naqueles últimos dias de 2015 eu arrisquei o desconhecido sem medo de me perder no mundo novo que abri as portas do meu pra conhecer. Em comum apenas o universo onde há anos tínhamos fincado morada involuntariamente. Até que eu, atrevido como sou - e findando já um ano de muita lição, mas pouca saudade - voluntariamente busquei em minha biblioteca os livros de história e fui lá no outro mundo perguntar se não existia a possibilidade de uma permuta de conhecimentos. Tantos admiráveis e reais mundos novos que eu ainda nem conheço por aí, mal não haveria em arriscar esse e ver quão admiráveis podiam ser sua língua, seu povo, sua cultura, suas histórias. Um mundo novo dificilmente não me encanta. São raras as vezes que minha biblioteca não recebe livros das histórias de outros lugares desse mesmo universo meu. Mas com que frequência os livros que retiro dela não são recebidos nesses mesmos lugares?

Pouco tempo restava e, ainda que fosse possível fazer um último gol, minha derrota era inevitável: eu nunca poderia ganhar aquele jogo aos quarenta e cinco do segundo tempo e não ganhei. Arriscar-se a conhecer mundos novos é arriscar-se também a inexistência do interesse alheio pelo seu. E quem, como eu, tem dificuldade em aceitar algumas de suas próprias histórias geralmente acredita neste último risco. Veio derradeira virada de ano e foi então que 2016 trouxe junto com ele aquelas histórias últimas do ano que findara, o que me fez lembrar do Teatro Mágico e daquela música sobre essas pessoas que, enquanto estiverem do lado de lá, nos mantém orientados do lado de cá - tipo um vizinho do outro lado da rua que te ajuda a levantar - e em parte ela diz: o fim é belo e incerto, depende de como você vê.

Tantos dias já daquele chute último, eis que anunciam em rede mundial que foi gol sim, mas foi gol contra. A defesa foi além do limite da trave e não fosse aquela análise minunciosa teria ficado por aquilo mesmo, gol a mais gol a menos não ia fazer diferença mesmo. Mas fez. A bola atravessou o campo, dançou no ar, foi um gol bonito. E há poucas horas chegou correspondência daquele mundo novo, dizendo que tinham histórias outras de lá ainda para serem contadas e talvez no mundo meu também tivesse e seria bom que outros encontros daquele houvessem. A cena repete, a cena se inverte, enchendo a minha alma daquilo que outrora eu deixei de acreditar, o Teatro canta antes do fim. Do chute um gol, do risco um futuro que, se é futuro, não tem fim. E, da forma que eu vejo, a incerteza do fim é o que torna tudo ainda mais belo.

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