Eu quero amor,
Eu quero tudo o que for bem colorido, tudo o que for leve
Não me atrapalhe, eu tenho um objetivo
E a vida é breve...
Alice Caymmi
Eu sinto dor todos os dias. Não tem dia sim ou dia não, é sempre dia de doer alguma coisa ainda mal resolvida no meu interior: um telefonema que faltou; um encontro que ficou pra dia outro que nem como noite vingou; um atraso no serviço que a cada dia mais atrasado fica; uma pisada na bola, na jaca ou no meu próprio pé - quem já o fez sabe da dor que é. Então eu sei como é doer do lado de dentro - embora cada um viva isso em sua própria intensidade - e jamais faria pouco da dor interna de outro alguém.
Eu sei das coisas que senti e o quão ínfimos podem parecer a outros olhos os motivos para ter me sentido dessa ou daquela maneira. E, com o tempo, aprendi a não ligar pra isso, porque acabei percebendo que todos tem seus motivos ínfimos, apenas não os exergam assim. Quem tem medo de escuro fazendo chacota com quem tem medo de subir de elevador, e vice-versa. Assim foi o último ano, regado a momentos desnecessários de descrédito no sentimento alheio. Pouco mais de vinte e sete primaveras e eu vi o relógio da vida dar sinais de bateria fraca.
Lembrei dos primeiros dias de janeiro último e do quanto aquela viagem em família tinha sido capaz de mudar o modo como eu vinha enxergando o mundo nos últimos tempos. Levei nas malas todo aquele querer que eu vinha cantando desde o dia primeiro do ano - eu quero amor, eu quero tudo o que for bem colorido, tudo o que for leve; não me atrapalhe, eu tenho um objetivo e a vida é breve - e era Caymmi a Alice que cantava e era pra Bahia de Caymmi que eu estava indo. Muito axé com certeza.
Não foi. E, de uns meses pra cá, a dor que vinha casualmente começou a ser rotina diária, porque telefones, encontros, atrasos e topadas com o pé passaram a ser também rotina diária. Se não era um, era outro e nunca faltava opção pra doer, porque meu querer, minhas vontades e meu bem estar eram desculpas que não justificavam meu comportamento. Talvez tenha sido assim vez ou outra, mas só eu sei do peso que carreguei nas costas todas as vezes em que passei pela porta do meu quarto em direção à rua quando tudo o que eu queria era ficar.
Leve, tudo o que eu queria ficar desde que aquele primeiro de janeiro passara e no quesito leveza de certo que 2015 não obteve nota máxima. Fiquei triste e decepcionado, claro. Beirando os trinta anos e incapaz de ser firme ao impor minhas vontades - aí sim arrumando desculpas que não justificavam meu comportamento, mas eram justificadas pelo descrédito à minha realidade e que eu provavelmente nunca tentarei fazê-la melhor ou pior que a de outra pessoa. Ela só é diferente e, depois de um tempo eu consegui perceber, aquela dor era porque eu estava fazendo diferente também.
Eu sinto dor todos os dias. Não tem dia sim ou dia não, é sempre dia de doer alguma coisa ainda mal resolvida no meu interior, mas do mesmo jeito que a dor se fez rotina, a leveza também passou a me visitar diariamente. Doía aqui, doía ali, mas quantos outros males não vem pro nosso bem? É egoísta, mas outra coisa não haveria de ser: antes de me sentir leve, achei que a dor fosse culpa, resultante de algumas atitudes com doses de egoísmo. Talvez tenha sido assim vez ou outra também, mas só eu sei de quão leve tenho me sentido desde então.
Eu sinto dor todos os dias. Não tem dia sim ou dia não, é sempre dia de doer alguma coisa ainda mal resolvida no meu interior, mas do mesmo jeito que a dor se fez rotina, a leveza também passou a me visitar diariamente. Doía aqui, doía ali, mas quantos outros males não vem pro nosso bem? É egoísta, mas outra coisa não haveria de ser: antes de me sentir leve, achei que a dor fosse culpa, resultante de algumas atitudes com doses de egoísmo. Talvez tenha sido assim vez ou outra também, mas só eu sei de quão leve tenho me sentido desde então.
Logo estarei de férias e pretendo viver essa folga de alguns dias um pouco longe daqui. Não cruzarei fronteira de estado ou sequer município, mas os quilômetros distante são suficientes pra impossibilitar uma conexão com a internet e, por consequência, a falta de contato com muitas das coisas que atravancam a passagem de outras mais leves, como navegar pelo Facebook e me perder completamente daquilo que eu estava decidido a fazer. Meu desejo era que num desses dias a chuva se fizesse presente, mas, como tantos outros, esse querer não é poder. Não depende de mim.
Com chuva ou sem chuva, uma coisa é certa: eu quero amor, eu quero tudo o que for bem colorido, tudo o que for leve. Ainda não posso dizer com absoluta certeza qual o meu objetivo, mas saber isso me é indiferente quando ainda estou em busca e nem sei se um dia vou encontrá-lo. Isso depende de mim e do quão leve eu vou estar para aceitá-lo quando chegar, então é primordial que a leveza se estenda ainda por um bom tempo. Eu continuo sentindo dor todos dias, por fazer diferente de tantos outros dias. Mas quanto mais leve eu fico, menos dor eu sinto. Eu quero tudo que for leve e mais ainda me sentir assim.
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