quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Além do corpo

 

Tento te erotizar e não consigo. Viajo nas lembranças até aquele oceano que só cabia nós dois, tentando isolar o que o coração sentia para falar só do que eu, como bicho homem, pensei e pensei e pensei tantas vezes fazer. Mas eu não consigo. Porque pensar em ti não remete só à carne, mas ao arrepio da pele que precisa de poesia para se revelar.

Não porque te ache criança inocente, pelo contrário. Defino seu corpo pelas palavras, excito-me mais por imaginar nossos corpos colados que encaixados. Você me faz sentir como se no aguardo de novas posições, novos jeitos de entrelaçar os corpos, novas experiências que teus anos a menos entregam ter pelo brilho nos olhos e a pele quente.

É difícil te erotizar porque, por mais convidativo ao prazer que seja estar com você, te enxergo além do corpo. E fazer sexo com você não me seria diferente. Porque eu quero adormecer sentindo teu corpo junto ao meu. E antes de adormecer eu quero te abraçar e beijar sua nuca e dizer que só saio daquele lugar porque é segunda e eu preciso ir trabalhar.

E eu não quero te erotizar na minha mente, porque seria como te idealizar na cama. E, se isso acontecer, eu não quero ter imaginado nada. Porque, cada vez eu olho pra ti, sinto mais vontade de simplesmente te conhecer. E ir conhecendo aos poucos. Eu quero conhecer teu corpo assim, me surpreendendo a cada nova descoberta. Te erotizar elimina a surpresa. E você é surpreendente demais para que eu estrague isso.

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