“Feliz ano novo, como tu gosta de falar”. Talvez tenha tardado para que eu aprendesse. Talvez, na verdade, eu ainda nem tenha aprendido, porque a vida é do tipo de disciplina cujo aprendizado se perpetua e vai saber se não podemos dizer “eu aprendi” só depois que deixarmos ela para trás. Vai saber, eu nunca fui lá e voltei pra poder dizer. Talvez tenha tardado, pode ser o caso, para eu perceber que, tal qual nos estudos, passar de ano não significa um boletim preenchido apenas de notas máximas. Eu nunca quis ser bom em tudo. Sempre tem aquelas matérias em que nós só precisamos ser suficientes. E talvez tenha tardado para que eu deixasse qualquer mágoa de mim se esvair para deixar-me preencher tão somente de paz. Paz e amor. Paz é amor. Só amor não basta, mas senti-lo me é suficiente.
“Muito amor pra celebrar os dias bons. Muito amor pra suportar os dias ruins. E muita estrada pela frente, pra você continuar trazendo a primavera pra gente.” Foi isso que eu senti ontem: amor. Não lembrei do que não deveria lembrar, não pensei sobre o que não deveria pensar e nem remoí o que não merecia um segundo sequer de um dia que, com o passar de outros dias, eu venho deixando de romancear para fazer dele mais meu que da minha imaginação. Mas ainda assim não pude deixar de conter os sorrisos que se fizeram flores, com as quais irei florir essa longa estrada pela frente que eu tenho a seguir. Porque nada melhor que um sorriso para expressar gratidão a quem acredita tanto em mim, ao ponto de me olhar e dizer: “não vejo a hora de me perder numa cidade desconhecida com você".
Cantaram-me as palavras de Clarice – “de todos os loucos do mundo eu quis você porque a sua loucura parece um pouco com a minha” – e eu lembrei que era esse o nome de quem viveu uma história contada por mim, responsável pela lembrança de um dos dias em que eu mais tive fé em mim mesmo. O amor é louco, não é verdade? Não como a paixão, avassaladora, sem limites ou pudores. O amor é louco porque só loucura para explicar como dois opostos podem se atrair tanto ao ponto de não conseguirem nunca mais se soltar. Só quem é louco deseja se perder numa cidade desconhecida com outro louco. Só quem é louco pode dar fim ao que seria pra sempre e iniciar outro, já que “continuaremos a inventar tantos outros porque o nosso para sempre nunca acaba”.
Só quem é louco, reconheçamos, é capaz de admirar o que, por vezes, são as fraquezas do outro – no “tirar algo de bom onde não tem, enxergar a pureza alheia, essa mania chata de acreditar que tudo tem uma justificativa, fazer vista grossa pra não deixar de amar”, no meu caso – e fazer delas justamente mais um motivo para dar a esse outro um tanto de amor que o faz sentir como capaz de voar. Se estou voando, estou sonhando, estou imaginando, estou escrevendo. Escrever sempre será o melhor presente que eu posso me dar, seja qual for o tamanho da estrada de tijolinhos amarelos em que permaneço seguindo. Em cada palavra minha tem um cadinho de amor meu, ainda que sejam palavras carregadas de dor, porque nelas sempre haverá de existir as minhas maiores verdades. Ter alguém que sempre me lê e ouvi-lo dizer “você está escrevendo melhor do que nunca” é como saber-se ainda mais crescido, amadurecido e disposto a sentir orgulho do cara que fui por causa do cara que sou.
E o que mais eu venho tentando ser é menos mais do mesmo e mais de mim mesmo, o que naturalmente implica em ser exatamente mais do mesmo, mas o mesmo verdadeiro Artur. Não que minha história se fizesse exceção à veracidade, mas quem me deseja “mais, sempre mais, do mesmo, do novo, do desconhecido, do inimaginável, do surpreendente, do comovente ao envolvente” sabe o quanto me é difícil viver mais que basear-me em fatos reais. E ontem, na minha virada de ano, no início de mais uma volta ao redor do sol, eu percebi que só vivendo de verdade – quando ainda era menos, mas o mesmo que sou hoje – eu pude ficar na lembrança de quem disse: “o Artur veio pra ser nosso equilíbrio, ou tantas vezes a falta dele. Foi nosso porto seguro, nosso elo e, algumas vezes, nossos cabelos brancos”. Porque, no fim das contas, eu sempre fui meio contraditório mesmo quando se tratava de amor: o enaltecia, mas, vez ou outra, pisava nele e a outros machucava.
Mas é do amor que nasce o perdão. Se não houver amor – às vezes só o próprio mesmo, não há arrependimento. Não há humildade ou reconhecimento para com alguém se desculpar - ou para desculpar a si mesmo. Com amor estreitamos ainda mais os laços que nós próprios amarramos com aqueles a quem chamamos família, porque fomos abençoados com o dom de escolher entre tantos outros que não dividem o sangue, mas divinamente dividem conosco essa passagem pela vida, e assim os chamar. Família que escolhemos para compartilhar a vida. “Você é como família. Você pode fazer qualquer bosta para mim que eu vou te perdoar, vou aceitar, vou entender. E tudo o que você decidir da sua vida, para sua vida, eu to aqui” foi uma das últimas coisas que eu ouvi antes que se encerrasse o primeiro dia do meu novo ano. Talvez ainda não tenha dado tempo de fazer qualquer bosta, mas é que durante todo o dia de ontem eu me permiti sentir somente amor: amar e ser amado.
“Muito amor pra celebrar os dias bons. Muito amor pra suportar os dias ruins. E muita estrada pela frente, pra você continuar trazendo a primavera pra gente.” Foi isso que eu senti ontem: amor. Não lembrei do que não deveria lembrar, não pensei sobre o que não deveria pensar e nem remoí o que não merecia um segundo sequer de um dia que, com o passar de outros dias, eu venho deixando de romancear para fazer dele mais meu que da minha imaginação. Mas ainda assim não pude deixar de conter os sorrisos que se fizeram flores, com as quais irei florir essa longa estrada pela frente que eu tenho a seguir. Porque nada melhor que um sorriso para expressar gratidão a quem acredita tanto em mim, ao ponto de me olhar e dizer: “não vejo a hora de me perder numa cidade desconhecida com você".
Cantaram-me as palavras de Clarice – “de todos os loucos do mundo eu quis você porque a sua loucura parece um pouco com a minha” – e eu lembrei que era esse o nome de quem viveu uma história contada por mim, responsável pela lembrança de um dos dias em que eu mais tive fé em mim mesmo. O amor é louco, não é verdade? Não como a paixão, avassaladora, sem limites ou pudores. O amor é louco porque só loucura para explicar como dois opostos podem se atrair tanto ao ponto de não conseguirem nunca mais se soltar. Só quem é louco deseja se perder numa cidade desconhecida com outro louco. Só quem é louco pode dar fim ao que seria pra sempre e iniciar outro, já que “continuaremos a inventar tantos outros porque o nosso para sempre nunca acaba”.
Só quem é louco, reconheçamos, é capaz de admirar o que, por vezes, são as fraquezas do outro – no “tirar algo de bom onde não tem, enxergar a pureza alheia, essa mania chata de acreditar que tudo tem uma justificativa, fazer vista grossa pra não deixar de amar”, no meu caso – e fazer delas justamente mais um motivo para dar a esse outro um tanto de amor que o faz sentir como capaz de voar. Se estou voando, estou sonhando, estou imaginando, estou escrevendo. Escrever sempre será o melhor presente que eu posso me dar, seja qual for o tamanho da estrada de tijolinhos amarelos em que permaneço seguindo. Em cada palavra minha tem um cadinho de amor meu, ainda que sejam palavras carregadas de dor, porque nelas sempre haverá de existir as minhas maiores verdades. Ter alguém que sempre me lê e ouvi-lo dizer “você está escrevendo melhor do que nunca” é como saber-se ainda mais crescido, amadurecido e disposto a sentir orgulho do cara que fui por causa do cara que sou.
E o que mais eu venho tentando ser é menos mais do mesmo e mais de mim mesmo, o que naturalmente implica em ser exatamente mais do mesmo, mas o mesmo verdadeiro Artur. Não que minha história se fizesse exceção à veracidade, mas quem me deseja “mais, sempre mais, do mesmo, do novo, do desconhecido, do inimaginável, do surpreendente, do comovente ao envolvente” sabe o quanto me é difícil viver mais que basear-me em fatos reais. E ontem, na minha virada de ano, no início de mais uma volta ao redor do sol, eu percebi que só vivendo de verdade – quando ainda era menos, mas o mesmo que sou hoje – eu pude ficar na lembrança de quem disse: “o Artur veio pra ser nosso equilíbrio, ou tantas vezes a falta dele. Foi nosso porto seguro, nosso elo e, algumas vezes, nossos cabelos brancos”. Porque, no fim das contas, eu sempre fui meio contraditório mesmo quando se tratava de amor: o enaltecia, mas, vez ou outra, pisava nele e a outros machucava.
Mas é do amor que nasce o perdão. Se não houver amor – às vezes só o próprio mesmo, não há arrependimento. Não há humildade ou reconhecimento para com alguém se desculpar - ou para desculpar a si mesmo. Com amor estreitamos ainda mais os laços que nós próprios amarramos com aqueles a quem chamamos família, porque fomos abençoados com o dom de escolher entre tantos outros que não dividem o sangue, mas divinamente dividem conosco essa passagem pela vida, e assim os chamar. Família que escolhemos para compartilhar a vida. “Você é como família. Você pode fazer qualquer bosta para mim que eu vou te perdoar, vou aceitar, vou entender. E tudo o que você decidir da sua vida, para sua vida, eu to aqui” foi uma das últimas coisas que eu ouvi antes que se encerrasse o primeiro dia do meu novo ano. Talvez ainda não tenha dado tempo de fazer qualquer bosta, mas é que durante todo o dia de ontem eu me permiti sentir somente amor: amar e ser amado.
O amor não é cego, mas faz vista grossa porque tem coisa que preferimos não nos deixar enxergar. Mas o amor é bom e me permite saber quem, independentemente de corpo, do meu lado está ou não está. Talvez tenha tardado para que eu aprendesse, talvez eu nunca aprenda, talvez tenha tardado para que eu percebesse: às vezes até quem a gente acha que não está lá, faz justamente desse o jeito de nos fazer enxergar que o amor está – se não camuflado na distância, guardado na lembrança que nada além disso será. Talvez tenha tardado para que eu me desse conta de que já sorri os sorrisos com que deixei mais florido o caminho que passei. E que qualquer outra vista além da minha vai vê-los porque quer ver, sem que eu precise pedir, suplicar ou obrigar. Talvez tenha tardado para que eu começasse a plantar mais sorrisos que lamentar aqueles que outros deixaram desfalecer à beira da estrada. Eu já os sorri. Quem quiser vê-los tem o caminho livre. E quem não quiser é que vai perder de sorrir junto desse sorriso torto e não só cheio de amor, mas de uma beleza que só o sol se pondo ontem conseguiu disputar o que mais me deu paz no primeiro dia do meu novo ano.
Ainda estou nessa luta tentando ser mais e esperando não deixar de lutar nunca. Mas, defitivamente, parei de tentar conquistar aquilo que eu já consegui, porque preciso ser feliz e viver essa conquista: o amor que, cultivado nas flores, nos sorrisos e no amor de tantos outros, eu hoje sinto mais por mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário