quinta-feira, 24 de setembro de 2015

De quando me calei

 
 
Vivíamos tão perto e sequer nos cruzamos antes de você partir e se apaixonar. Estivemos nos mesmos lugares, talvez até olhando na mesma direção, mas nunca naquela em que cruzaríamos os olhares. Mas é como eu sempre digo: as coisas acontecem quando tem que acontecer – se Deus escreve mesmo, tenho certeza que é por linhas tortas que chegam os acertos – e, ao invés da exclusividade de uma lembrança visual, nos encontramos esse tempo depois daqueles desencontros pra eu ouvir suas histórias, colecionar inúmeros sorrisos seus na memória e ter uma das noites mais incríveis que eu jamais vou esquecer.

Isso pode parecer exagerado, mas não se assuste pensando que estou te nomeando o amor da minha vida até a eternidade. Nossas idades são prova que não tivemos os destinos traçados na maternidade e eu não tenho tempo de sair por aí roubando mil rosas pra levar até você – e, mesmo que tivesse, não conheço jardins com roseiras suficientes pra tornar real as loucuras de um Cazuza apaixonado. Sem contar que eu prefiro Renato com aquela história particularmente interessante sobre um Eduardo certinho e uma Mônica estranhamente fofa.

Como um dia disse Vinícius de Moraes: a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nessa vida. E como foi bom te encontrar, mesmo que outro tenha te encontrado antes. É que, às vezes, o simples fato de alguém nos fazer sorrir é suficiente para fazer desse alguém uma lembrança inesquecível. E, confesso, não é qualquer pessoa que consegue me fazer calar por tanto tempo – e por vontade própria – como eu não pude resistir e assim o fiz ontem para ouvir suas histórias.

Talvez esse ontem não venha a ser outra coisa que não essa lembrança a se perpetuar na memória, mas é fato que, enquanto lá estávamos, aquele momento era literalmente um presente. Meu discurso está demais? É que eu acabo sempre romantizando demais aquilo – quem, no caso – que me faz bem. Você é real por demais, mas a costumeira incerteza do amanhã faz do futuro apenas uma expectativa que deixo nas mãos do destino sua concretização. Enquanto isso, vou eternizando nas palavras o que não conseguiria materializar de outra forma senão escrevendo.

Onde você estava esse tempo todo? Agora sou eu quem pergunta, só por perguntar mesmo. Porque estávamos nos nossos devidos lugares, tal qual quando nos falamos a primeira vez e tivemos um tal de primeiro encontro. Único também? Talvez, mas – que bom! – suficiente para me ajudar a sair da mesmice que eu não via a hora de ver apenas quando olhasse pra trás. Não, você não foi como um despertar ou renascimento, porque, aí sim, seria demais e eu estaria próximo à loucura de um tal Cazuza. Mas, como disse, eu ainda prefiro o Renato. Assim como ele vejo um amanhã inexistente, então aproveito o hoje para agradecer por você ter me feito sorrir. E sorrir tanto como eu nem imaginava precisar.

Reitero, finalmente chegando ao fim – ufa, aquilo que disse depois que me despedi: não foi só o beijo, foi a sua companhia. Havia muito eu não ficava sem olhar o relógio por tanto tempo e sem culpa por chegar de manhã em casa durante a semana. Havia muito eu não ficava calado só prestando atenção no que outro alguém dizia pra mim. E havia muito tempo eu não me sentia tão feliz como naquele espaço de tempo entre nosso aperto de mãos e nosso último beijo. Obrigado por todos os sorrisos que eu pude distribuir hoje.

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