terça-feira, 15 de setembro de 2015

Diariamente

  
Já era manhã. Como todos os dias Renato desligava o despertador reclamando daquela música que ele não agüentava mais. Como toodos os dias ele levantou e seguiu para o banheiro onde, como todos os dias, escovava os dentes e tomava banho. Cara amassada no espelho. Não agüento mais essa rotina insuportável que é a minha vida. Renato puxava os cantos dos olhos, fazia caras e bocas procurando, como todos os dias, qualquer nova marca de expressão que refletisse os anos que já tinha passado.

Tinha trinta e sete anos, dois meses e vinte e cinco dias. Solteiro, morava com a vó. Como todos os dias, na hora de tomar café, assistia com ela o jornal da manhã. Bom dia, vó! Não venho almoçar em casa hoje. Já era de praxe: como todos os dias ele almoçava na firma. Era convênio, diziam eles, com a tia da marmita. E era mais barato que ir até em casa almoçar. Fora o trânsito caótico da cidade naquela hora do almoço. Como todos os dias ele sentava na mesma mesa, ao lado do bebedouro e de frente pra porta. Sozinho.

Saía do trabalho todos os dias às dezessete horas. O ônibus passava às dezessete e quinze, pontualmente. Como todos os dias ele já deixava as moedas à mão. Sempre pagava com moedas. Pra facilitar o troco do cobrador. Levava no máximo meia hora para chegar em casa. Abria o portão e tirava os sapatos ainda na porta de entrada. O cheirinho do café da vovó perfumava a casa inteira. Era assim todos os dias: café com bolachas amanteigadas antes da novela das sete. O dele sempre sem açúcar.

Como todos os dias Renato assistia a novela das sete com a avó. Ele no sofá, ela na cadeira de balanço. Entre eles a mesinha pequena com seus pires e xícaras de café. Como foi o dia hoje, meu filho? Ela perguntava com aquela voz falha, meio rouca e para dentro. Normal, vó. Como todos os dias. Nunca acontecia nenhuma novidade mesmo. Acabava a novela, já era hora de se deitarem. Renato levava a vó pro quarto, boa noite vó, e seguia para o seu. Como todos os dias, ele programava o despertador, deitava e, poucos minutos depois, adormecia.

Já era manhã. Como todos os dias Renato desligava o despertador reclamando daquela música que ele não agüentava mais. Como todos os dias ele levantou e seguiu para o banheiro onde, como todos os dias, escovava os dentes e tomava banho. Cara amassada no espelho. Não agüento mais essa rotina insuportável que é a minha vida. Renato puxava os cantos dos olhos, fazia caras e bocas procurando, como todos os dias, qualquer nova marca de expressão que refletisse os anos que já tinha passado.

Tinha trinta e sete anos, dois meses e vinte e seis dias. Solteiro, morava com a vó. Como todos os dias, na hora de tomar café, assistia com ela o jornal da manhã. Bom dia, vó! Não venho almoçar em casa hoje. Silêncio. Já era de praxe: como todos os dias ele almoçava na firma. Era convênio, diziam eles, com a tia da marmita. E era mais barato que ir até em casa almoçar. Fora o trânsito caótico da cidade naquela hora do almoço. Como todos os dias ele sentava na mesma mesa, ao lado do bebedouro e de frente pra porta. Sozinho.

Saía do trabalho todos os dias às dezessete horas. O ônibus passava às dezessete e quinze, pontualmente. Como todos os dias ele já deixava as moedas à mão. Sempre pagava com moedas. Pra facilitar o troco do cobrador. Levava no máximo meia hora para chegar em casa. Abria o portão e tirava os sapatos ainda na porta de entrada. O cheirinho do café da vovó perfumava a casa inteira, mas não dessa vez. Não foi como todos os dias: café com bolachas amanteigadas antes da novela das sete.

Diferente dos outros dias, ele subiu até o quarto da avó. Estava deitada, olhos fechados, sem respiração, sem pulso, sem reação. Não teve médico, enfermeiro ou reza que solucionasse. Morreu mesmo! Diziam. Mas ela não podia deixá-lo. Não daquele jeito, sozinho, sem café, sem bolachas amanteigadas, sem novela das sete. Foi cremada. E a urna onde a tinha posto adornava os vários aposentos da casa. Como todos os dias, Renato dava bom dia, dizia que não ia almoçar em casa e tomava café com bolachas amanteigadas enquanto assistia a novela das sete. Ele no sofá. Ela na cadeira de balanço.

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