quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Você, Augusto

 

Quem era você, Augusto? Uma noite, uma diversão, um clique retribuído com afeição. Você era um final de ano, a lentilha cheia de esperança no bolso da calça que nunca iria virar dinheiro. Era o risco mais rabiscado que eu me atrevi correr e, tão logo cometi a primeira de tantas outras verdadeiras loucuras, eu comecei a me perguntar quem eu era. Porque eu só podia realmente estar louca em dar razão a uma paixão de verão como se pudesse ser adolescente aos vinte e cinco anos de idade.

Quem é você, Augusto? Eu venho me perguntando desde então. Uma hora brincalhão, vez ou outra sem noção de tempo e espaço – causa da minha irritação. Num momento cheio de planos, em outro – às vezes sem perceber – sem qualquer esperança quanto à existência de planos meus para nós dois. Um dia avacalha minha paciência, tocando a campainha do vizinho e correndo às gargalhadas, noutro me acorda de madrugada para dizer que me ama. Até hoje eu não sei quem você é e por favor não me diga porque, veja só, eu não quero saber.

Quem será você, Augusto? Essa pergunta até atiça mais a minha curiosidade, porque só vivendo para responder. Viver tal qual nós viemos fazendo nesses três últimos anos: será que faremos cabo de guerra nas quartas de futebol? Você irá me afrontar um dia em defesa de alguma amiga? Dias depois me defender de algum amigo machista? Vou ganhar café da manhã na cama em um aniversário de namoro? E será que você vai dormir no sofá no ano seguinte por esquecer que eu fiquei de fazer o jantar, porque era quarta, dia de jogo e você chegou bêbado – e me chamando de louca porque nosso combinado era jantar às duas e meia da manhã.

Quem era, quem é, quem será, não me importa. Me importa você, Augusto. Me importa esse voar mais alto da loucura – que passou a me acompanhar depois que você chegou – e te ter me trazendo à realidade quando sua fantasia chama. Me importa mesmo é termos sido, o que somos e, prefiro nem imaginar, o que seremos. Talvez estivéssemos realmente perdidos e nos encontramos sem saber que estávamos nos procurando. Ou talvez ainda estejamos perdidos, vai saber, mas é porque é assim mesmo que é pra ser. Perdidos ou não, estamos encontrados.

Tem dias que não me reconheço, tem dias que fico em dúvida se te conheço de verdade. Mas, desde aquele primeiro dia – e eu posso parecer uma louca dando essa intensidade ao nosso primeiro encontro, mas o que somos nós se não a maior loucura que vivemos? – eu não tenho dúvidas que até o fim seremos “nós”. Mas, só pra constar, os dias de hoje e amanhã serão exceções à essa regra que criei pra mim sobre um quem desconhecido, porque, olhando pra você agora, não tem como existir qualquer outra resposta para as perguntas sobrem quem você é e quem você será. Hoje você é meu noivo. Amanhã será meu marido.

Mel

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